Quilombo da Berta

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O Quilombo da Berta, também conhecido como Mocambo da Berta, foi um famoso e temido quilombo existente entre os séculos XVII e XVIII, e possivelmente no início do século XIX, localizado no atual município de Itajubá, Sul de Minas Gerais. Era considerado o "Palmares dos sopés da Mantiqueira".

Localização[editar]

O quilombo situava-se no sul do atual município de Itajubá, próximo à Serra do Pouso Frio (que atinge 1.387 metros de altitude, nas divisas com Piranguçu) e à Pedra Vermelha, conhecida pelos índios como Itapiranga ou Piranguçu (pedra grande, na língua tupi). Nas imediações do local, nasce o Ribeirão das Anhumas, um dos afluentes do Rio Sapucaí, que servia para saciar a sede dos quilombolas. O arraial das Anhumas, formado por casebres, já existia em 1810 e possivelmente teve início no século XVIII pelos escravos fugidos homiziados na Berta.

Nome[editar]

A origem do nome "Berta" (ou "Aberta", em alguns documentos antigos) não é segura. Provavelmente, seria o apelido ou nome de alguma proprietária ou matrona ligada ao passado ou lendas do lugar.

População e Origens[editar]

A Berta serviu como um valhacouto (refúgio) onde se homiziavam escravos fugidos das senzalas e lavouras de diversas localidades do Sul de Minas e do norte de São Paulo. Entre as regiões de origem estavam Campanha, Baependi, Soledade de Itagybá (hoje Delfim Moreira), Espírito Santo dos Cumquibus (Cristina), Jaguari (atual Camanducaia), Aiuruoca, São Gonçalo, Bom Jesus do Mandu (Pouso Alegre), São José do Picu (Itamonte), Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Pouso Alto, e até localidades mais distantes. Eles buscavam escapar dos rigores da chibata, do tronco e do trabalho forçado. O número de homens e mulheres escondidos no quilombo é desconhecido, os documentos só indicam que eram "muitos".

Atividades[editar]

Os quilombolas da Berta se organizavam em bandos para percorrer as picadas e estradas da Serra da Mantiqueira, onde se escondiam em capões de mato e florestas. Eles assaltavam tropas de burros cargueiros e caravanas, tomando-lhes toda a carga. Os bens mais estimados que pilhavam incluíam sal, armas, munições, ferramentas, cutelarias, fazendas (tecidos), fumo, bebidas, açúcar, cereais, carnes e outros alimentos. Tudo o que era pilhado era repartido "fraternalmente" na Berta.

A fama desses quilombolas perigosos e numerosos se espalhou por todo o Sul de Minas devido às suas "barbaridades e rapacidade". Isso obrigava os viajantes da Mantiqueira a se locomoverem apenas em grupos e fortemente protegidos por contingentes armados. No entanto, mesmo esses contingentes nem sempre eram suficientes para resistir. Nem os mais destemidos capitães-do-mato se arriscavam a se aproximar da Berta. Os quilombolas mantinham sentinelas em locais elevados ("mangrulhos") dia e noite, preparados para a luta caso avistassem qualquer estranho na periferia. Uma carta de 1786 referia-se a eles como uma "ameaça aos povos das minas do Itajubá (hoje Delfim Moreira)" e mencionava a necessidade de organizar tropas para desbaratá-los e reconduzi-los ao cativeiro. Em torno de 1800, foi oferecida uma recompensa por um escravo fugido chamado Adão, que estava nesta "cidadela odiosa".

Relação com a Imagem de Nossa Senhora dos Remédios[editar]

A tradição conta que, em uma dessas cargas roubadas, os quilombolas encontraram uma imagem de Nossa Senhora dos Remédios. Essa imagem foi levada para a Berta, onde inicialmente lhe deram um nicho de pedras. Posteriormente, a imagem foi levada para Anhumas, a pouca distância da Berta. Foi colocada em uma pequena ermida de paus toscos antes mesmo da fundação da Capela Nova (atual Itajubá). Essa ermida rústica erguida na Berta (no local hoje conhecido como Anhumas) foi considerada o primeiro templo construído em território itajubense, anterior à capela fundada pelo Padre Lourenço. A imagem se tornou objeto de um adoração que misturava o cristianismo com crenças africanas, o que atraía peregrinos e causava preocupação ao vigário. Há dois livros no arquivo da Paróquia de Nossa Senhora da Soledade que documentam a história dessa imagem. Uma senhora chamada Antônia da Silva Ribeiro teria convencido os negros da Berta a colocar a imagem na ermida e confiado o zelo da imagem a dois irmãos surdos-mudos, os Prados.

Fim do Quilombo[editar]

O temido quilombo da Berta chegou ao fim devido a uma "peste grassante" (uma doença contagiosa e disseminada) que ocorreu no início do século XIX.

Importância Histórica[editar]

O Quilombo da Berta é um importante marco histórico que demonstra a resistência de pessoas escravizadas na região da Mantiqueira antes mesmo da fundação da atual cidade de Itajubá. Sua existência e as ações dos quilombolas impactaram a vida local, gerando medo e exigindo medidas de segurança para os viajantes. O povoado de Anhumas, onde a imagem de Nossa Senhora dos Remédios foi colocada, é considerado o local do primeiro templo no território do atual município de Itajubá.