Fundação e Formação Inicial

De História de Itajubá - Wiki
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A Fundação de Itajubá

A história da cidade de Itajubá teve início oficialmente em 19 de março de 1819, quando um grupo liderado pelo Padre Lourenço da Costa Moreira deixou o antigo arraial da Soledade de Itajubá (atual Delfim Moreira) em busca de terras mais férteis e promissoras.

Segundo a tradição, oitenta famílias teriam acompanhado o padre nesta travessia, descendo o rio Santo Antônio até encontrarem uma planície às margens do rio Sapucaí, local que foi batizado de Boa Vista.

No novo local, Padre Lourenço construiu uma pequena capela de pau-a-pique dedicada a São José, onde celebrou a primeira missa em agradecimento pela chegada. A fundação ocorreu no dia de São José.

A partir daí, iniciou-se a formação do novo núcleo urbano, com divisão dos terrenos entre os moradores e arruamento do povoado. O próprio Padre Lourenço demarcava locais para residências.

Este evento é considerado o marco fundador da cidade de Itajubá.

O Contexto da Fundação

Na época, o sul de Minas vivia o declínio da mineração e muitos povoados enfrentavam crises econômicas.

A região de Boa Vista, com terras adequadas para agricultura e criação de gado, apresentava melhores condições para o desenvolvimento. Já existiam fazendas na região antes da chegada do Padre Lourenço.

A fundação de Itajubá se insere nesse contexto de busca por alternativas econômicas viáveis e expansão territorial do Brasil no início do século XIX.

A consolidação do novo arraial foi gradual:

  • A paróquia foi oficialmente reconhecida apenas em 1832, com a supressão oficial da capela de Soledade como sede paroquial e a transferência para a Boa Vista do Sapucaí. Anteriormente, a região pertencia à Diocese de São Paulo.
  • A elevação à categoria de vila ocorreu em 27 de setembro de 1848. Antes disso, em 1831, a Boa Vista do Sapucaí já havia sido elevada a Distrito de Paz. A elevação a vila representava a autonomia do local, com a possibilidade de ter Câmara própria.

Durante esse período, houve disputas e tensões entre o novo núcleo e os moradores da antiga Soledade, especialmente em relação à posse de paramentos religiosos e a transferência da sede paroquial. O episódio conhecido como "Encontro" ilustra esse conflito. A antiga capela de Soledade foi oficialmente suprimida como sede paroquial em 1832.

Controvérsia Histórica: A Grande Marcha e a Construção do Mito

Pesquisas mais recentes indicam que a narrativa tradicional pode ter sido construída estrategicamente. Entrevista com professora Felícia Eugênia de Abreu Couto, NEPHIS mostra que a narrativa tradicional sobre a fundação de Itajubá, baseada nos registros do Padre Lourenço, deve ser analisada com cautela.

O documento que relata a "grande marcha" das oitenta famílias só foi redigido décadas depois, nos anos 1850, em um contexto em que era necessário legitimar a posse das terras diante da nova Lei de Terras (1850). Padre Lourenço, ao registrar a fundação da cidade no Livro de Óbitos de Escravos, procurava reforçar os direitos dos moradores da então recém-criada vila.

Há indícios de que o número de famílias era exagerado e que muitos dos episódios narrados foram romantizados. Além disso, as disputas entre Padre Lourenço e antigos posseiros, bem como sua relação com sesmeiros locais, indicam que a transferência da sede paroquial foi um processo complexo e cheio de conflitos — e não apenas um movimento harmonioso como muitas vezes é apresentado.

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