Historiografia e Fontes
O estudo da história de Itajubá se baseia em uma rica variedade de fontes documentais e bibliográficas, que permitem traçar a trajetória da cidade desde seus primórdios até os dias atuais. A historiografia local conta com autores dedicados que compilaram e interpretaram esses registros ao longo do tempo, embora a análise crítica das fontes seja sempre incentivada.
Principais Historiadores e Obras
Diversos autores se debruçaram sobre a história de Itajubá, contribuindo com compilações, análises e narrativas:
- Armelim Guimarães (José Armelim Bernardo Guimarães): Figura central na historiografia itajubense, reconhecido por seu trabalho de compilação de fatos, dados e datas. Ele é autor de diversas obras fundamentais:
- História de Itajubá (1988): Esta obra é descrita como minuciosa e abrangente, abordando desde a geografia e primórdios do povoamento até a vida material, política, social, educacional e cultural. Foi baseada em extensa pesquisa em arquivos, documentos, registros, obras de cronistas e historiadores antigos, coleções de jornais, e relatos de contemporâneos.
- Efemérides Itajubenses (1988).
- Itajubá e Sua História (opúsculos ilustrados de 1998 e 1999).
- Resumo Didático da História de Itajubá (2000).
- Também colaborou semanalmente no jornal "O Sul de Minas" com crônicas históricas da região.
- O trabalho de Armelim Guimarães é considerado um painel histórico importante, apesar de ter sido apontada a necessidade de crítica histórica em relação às fontes e à sua própria perspectiva de narrador.
- Pedro Bernardo Guimarães: Pai de Armelim, foi descrito como o primeiro historiador de Itajubá. É autor da obra Município de Itajubá, publicada em 1915 pela Imprensa Oficial de Minas Gerais. Este livro tratou da expansão econômica e social do município, servindo também como propaganda e destacando personalidades da época.
- Geraldino Campista: Citado por seus estudos sobre a etimologia de Itajubá e a história da primitiva Itajubá (Delfim Moreira). Sua monografia intitulada Itajubá foi publicada na "Revista do Instituto Histórico Mineiro" e em separata.
Outras obras e autores são mencionados em contextos mais específicos ou metodológicos, como Pompeu Rossi ("História de Ouro Fino") e Euclides Pereira Cintra ("Do Litoral a Vargem Grande - Brasópolis Aspectos Históricos Gerais"), além de acadêmicos que discutem teoria da história e patrimônio. A Diocese de Pouso Alegre também produziu uma obra comemorativa em 1950 que contém relatos históricos dos municípios, embora baseados mais na tradição do que em pesquisa fundamentada.
Fontes Documentais Primárias
A pesquisa histórica de Itajubá recorre a diversos tipos de documentos originais:
- Documentos da Câmara Municipal: Representam um dos maiores patrimônios documentais do município.
- Atas das Sessões: Registram a evolução da sociedade e da administração desde a emancipação política em 1848. As atas da antiga Câmara e do Executivo itajubense são fontes essenciais.
- Livros de Registro e Documentos Diversos: Incluem controles financeiros, apurações de eleições, e outros registros administrativos.
- "Posturas Policiais": Regulamentos que ordenavam a vida urbana e social da cidade.
- O Memorial da Câmara Municipal de Itajubá, criado em 2012, tem como objetivo preservar e disponibilizar esse acervo documental, que abrange desde 1849. Uma parte significativa desse acervo (281 livros) estava em processo de Tombamento Municipal em 2016, reconhecendo sua importância para a história local.
- Registros Eclesiásticos: Os arquivos das paróquias fornecem dados valiosos, especialmente para os períodos mais antigos.
- Livros de Batizados, Casamentos e Óbitos: Contêm registros desde a fundação da cidade. O Livro de Óbito de Escravos de Itajubá é citado como particularmente importante para datações e narrativas sobre a comunidade da Boa Vista e a pendenga jurídica envolvendo o Padre Lourenço.
- Livros de Tombo: Registram eventos e bens das paróquias. Os Livros do Tombo da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Soledade (Itajubá), embora o Livro do século XIX não esteja completo, contêm retrospectivas importantes baseadas em anotações anteriores. Livros do Tombo de Delfim Moreira (a primitiva Itajubá) e Piranguçu também são fontes relevantes.
- Arquivos das Cúrias Arquidiocesanas de São Paulo e Pouso Alegre também possuem documentos sobre a Paróquia de Itajubá.
- Imprensa Local: Os jornais de Itajubá, desde o primeiro ("O Itajubá", fundado em 1872), são fontes cruciais para documentar o dia a dia, a vida social, política e cultural, e a produção intelectual. Coleções de jornais antigos como "O Itajubá", "A Verdade", "Gazeta de Itajubá", "Cidade de Itajubá", e o "O Sul de Minas" são citadas. O Acervo "João Aldano" preserva coleções importantes.
- Arquivos de Órgãos Públicos:
- Arquivo Público Mineiro (APM): Importante fonte para documentos da Câmara Municipal e outros registros estaduais relacionados a Itajubá.
- Comarca de Itajubá (Fórum): Arquivos que remontam a 1872, relevantes para a história jurídica e social.
- Documentação referente ao Serviço e Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Artístico de Itajubá, incluindo dossiês de processos de tombamento.
- Documentos de Associações e Particulares: Arquivos de entidades como a Irmandade de São Benedito, Clube Itajubense, Centro Operário D. João Nery, Liga Operária Itajubense, Cultura Artística de Itajubá. Arquivos particulares, incluindo documentos mantidos por famílias tradicionais. Documentos sobre a Massa Falida da Companhia Industrial Sul Mineira/Fábrica Codorna.
- Outras Fontes: Incluem fotografias, relatos orais/memórias (como de antigos operários e conselheiros de patrimônio), testamentos, e publicações do IBGE para dados demográficos.
Considerações sobre as Fontes
É fundamental reconhecer que a pesquisa histórica sobre Itajubá deve considerar a existência, no século XIX, de duas localidades com o mesmo topônimo Itajubá: a atual cidade e o antigo povoado de Nossa Senhora da Soledade de Itagybá, hoje Delfim Moreira. A confusão entre as referências históricas dessas duas localidades tem sido uma fonte comum de equívocos.
Além disso, a preservação de documentos históricos, como os da antiga Câmara, nem sempre foi ideal, com alguns volumes encontrados em mau estado, e nem todo o material produzido pela imprensa ou por intelectuais foi preservado. A análise crítica e o cotejamento de diferentes fontes são, portanto, essenciais para uma compreensão aprofundada e acurada da história de Itajubá.