A Itajubá Primitiva
A cidade de Delfim Moreira, localizada no sul de Minas Gerais, é historicamente reconhecida como a "Itajubá Primitiva". Este povoado serrano, situado no alto da Serra da Mantiqueira, próximo à divisa com o estado de São Paulo e a aproximadamente 1400 metros de altitude, foi o núcleo original que precedeu e influenciou diretamente a fundação da atual cidade de Itajubá.
Fundação[editar]
A história da Itajubá Primitiva remonta a **1703**, quando o bandeirante paulista, natural de Taubaté, Miguel Garcia Velho, fundou o povoado. Miguel Garcia Velho, em sua busca por ouro e pedras preciosas, explorou a região do planalto do Capivari e, embora tenha encontrado pequenas quantidades de ouro em outros locais, foi a mina do Itagybá que mais o seduziu. No local onde descobriu minas, ele deu início ao povoado. Inicialmente, o assentamento foi denominado **Nossa Senhora da Soledade de Itagybá**.
A exploração inicial de ouro na região foi breve e pouco produtiva. Aqueles que permaneceram no povoado, após a diminuição da atividade mineradora, voltaram-se para a agricultura e pecuária.
A Transferência da Sede Paroquial e o Povoamento da Nova Itajubá[editar]
A primitiva Itajubá (Soledade de Itajubá) era a sede da freguesia que abrangia uma vasta área da encosta da Mantiqueira. Em fins de **1818**, o Padre Lourenço da Costa Moreira foi nomeado pároco desta freguesia. Ele rapidamente considerou a localização da antiga sede desfavorável, descrevendo-a como pobre em recursos ("nem víveres havia") e com poucos moradores. Chegou a qualificá-la como um "cemitério dos vivos".
Em 19 de março de 1819, Padre Lourenço, acompanhado de cerca de 80 paroquianos, celebrou a primeira missa na Boa Vista do Sapucaí (o local da atual Itajubá), dando início a um novo povoado. Este ato, impulsionado pela fé e pela busca por um local mais próspero, marcou o início da "nova Itajubá". O Padre Lourenço previu que o povoado que fundava seria "uma vila de nome".
A transferência oficial da sede paroquial para a Boa Vista do Sapucaí ocorreu mais tarde, com a supressão da capela serrana como sede pelo Decreto Episcopal de 8 de novembro de 1831 e a determinação de transferência pelo Conselho Geral da Província em 7 de março de 1832 (promulgada pelo Decreto Imperial de 14 de julho de 1832).
O Conflito do "Encontro"[editar]
A decisão do Padre Lourenço de abandonar a antiga sede e a posterior tentativa de transferir os objetos sagrados e livros da igreja geraram forte "resistência e indignação" entre os moradores da primitiva Soledade de Itajubá. Em 1832, quando o padre e seus paroquianos da Boa Vista tentaram resgatar os bens da igreja da antiga sede, foram recebidos violentamente pelos delfinenses com "cacetadas, tapas, murros, pontapés, e com ameaças de foiçadas e tiros". O confronto ocorreu próximo a uma ponte. A caravana do Itajubá Novo foi repelida sem conseguir levar nada.
Este incidente, marcado pela bravura e defesa bairrista dos moradores da antiga sede, fez com que o local do confronto ficasse conhecido como "Encontro". A municipalidade de Delfim Moreira, para preservar a memória desse acontecimento histórico, conserva até hoje uma rua com o nome "Avenida do Encontro" no local.
Delfim Moreira: Do Itajubá Velho à Cidade Atual[editar]
Com o desenvolvimento da Boa Vista do Sapucaí e sua elevação gradual (Curato em 1822, Juizado de Paz em 1831, Freguesia em 1831/1832, Vila em 1848 e Cidade em 1862), a primitiva Soledade de Itajubá passou a ser popularmente conhecida como "Itajubá Velho". Apesar da resistência inicial, o povoado cresceu e prosperou.
Somente em 17 de dezembro de 1938, por força do Decreto-Lei Estadual nº 148, o distrito de Soledade de Itajubá foi desmembrado do município de Itajubá e elevado à categoria de município, recebendo a denominação de Delfim Moreira, em homenagem ao estadista Delfim Moreira da Costa Ribeiro.
A ligação de Delfim Moreira com Itajubá foi reforçada pela construção de um ramal da Estrada de Ferro Sapucaí, que bifurcava da linha principal (inicialmente em Soledade de Minas) e chegava a Delfim Moreira. O último trem neste ramal correu em 28 de março de 1957, e os trilhos foram subsequentemente removidos devido à desativação da linha deficitária.
Figuras Históricas Associadas[editar]
Diversas personalidades importantes estão ligadas à história da Itajubá Primitiva (Delfim Moreira):
Miguel Garcia Velho: Fundador do povoado em 1703. Padre Lourenço da Costa Moreira: Pároco da Freguesia de Soledade de Itajubá antes de fundar a nova Itajubá na Boa Vista. Antônio de Oliveira Lopes "Fraca-Roupa": Topógrafo inconfidente que residia em Soledade de Itajubá (Delfim Moreira) e mapeou as terras da região onde a nova Itajubá seria fundada. Geraldino Campista: Historiador que estudou e corretamente explicou a etimologia da palavra Itagybá/Itajubá. Luiz Barcellos de Toledo: Autor cristinense que escreveu sobre o passado de Cristina, mencionando a região de Itajubá. Bernardo Saturnino da Veiga: Autor do Almanaque Sul-Mineiro que, embora tenha registrado informações históricas, incorreu em erros sobre a etimologia de Itajubá. José Domingues Vila-Nova: Português que vendeu o terreno para o novo cemitério em Itajubá e residia em Piranguçu, mas também tinha terras na área.
A Itajubá Primitiva, hoje Delfim Moreira, permanece como um marco fundamental na história regional, sendo a "célula máter" da atual cidade de Itajubá.