Padre Lourenço da Costa Moreira
O Padre Lourenço da Costa Moreira é uma figura central e é considerado o fundador da atual cidade de Itajubá. Sua atuação no início do século XIX foi decisiva para o estabelecimento do povoado que se tornaria a urbe de Itajubá, em contraste com a primitiva localidade de Nossa Senhora da Soledade de Itajubá, hoje Delfim Moreira.
Origens e Primeiros Anos[editar]
Nascido em São Tiago de Mouquim, no concelho da Vila Nova do Famalicão, Arcebispado de Braga, Portugal, em 15 de maio de 1778. Era filho de Francisco da Costa Moreira, também sacerdote, e de D. Maria da Silva, filha do alfaiate Bento José da Silva. Ele tinha uma irmã, Madalena Teresa de Jesus. O Padre Lourenço veio para o Brasil ainda na adolescência.
Fez seu curso eclesiástico em São Paulo, sendo ordenado sacerdote em 12 de maio de 1811. Aos 33 anos, tornou-se coadjutor do vigário de Guaratinguetá, que era seu pai, o Padre Francisco da Costa Moreira. Seu pai também figurava em documentos históricos do sul de Minas a serviço da Vara Eclesiástica de Guaratinguetá. O Padre Francisco faleceu em janeiro de 1819 em Guaratinguetá. Nomeação e Chegada ao Brasil
O Padre Lourenço da Costa Moreira foi nomeado Vigário da Igreja de Itajubá (referindo-se à antiga localidade, hoje Delfim Moreira) por Dom João VI, Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve, em 24 de outubro de 1817. A posse do cargo só foi possível em 19 de setembro de 1818 por procuração junto ao bispo de São Paulo, diocese à qual a paróquia pertencia na época.
Ele chegou à sua nova paróquia em janeiro de 1819. No entanto, ficou impedido de vir assumir imediatamente em função da morte de seu pai, necessitando resolver pendências como herdeiro.
A Fundação da Nova Itajubá (Boa Vista do Sapucaí)[editar]
Ao chegar à primitiva Itajubá (Delfim Moreira), o Padre Lourenço não gostou do lugar. Achou-o frio, de difícil acesso, com topografia desfavorável e sem progresso após 116 anos de fundação. Havia poucas ruas tortuosas e pouquíssimos moradores, com falta de comércio. Ele chegou a classificar a velha sede paroquial como uma "sepultura dos vivos".
Em 19 de março de 1819, o Padre Lourenço chegou à colina do Ibitira, ao sopé do rio Sapucaí. Gostando do lugar, celebrou a primeira missa ali em um tosco altar de paus. Este ato é considerado a fundação da nova Itajubá. Embora não houvesse um arraial pré-existente no local, havia fazendas de primeiros posseiros e sesmeiros. Os pioneiros da agropecuária manifestaram satisfação e colaboraram para a construção da aldeia. A colina onde a primeira missa foi celebrada pertencia a Francisco Alves, proprietário da Fazenda do Centro, que a doou à Igreja. O Padre Lourenço construiu uma pequena capela de pau-a-pique, que foi o núcleo do primeiro templo.
Em 1822, o Bispo D. Mateus de Abreu Pereira concedeu ao Padre Lourenço a licença para benzer a capela e o cemitério do então povoado da Boa Vista do Sapucaí.
Conflitos e a Transferência da Sede Paroquial[editar]
A decisão do Padre Lourenço de abandonar a Capela Velha (Delfim Moreira) e residir na Capela Nova (atual Itajubá) gerou conflitos. Em 5 de setembro de 1831, foi intimado a depor diante de autoridades civis. No "Termo de Reconciliação", ele explicou as conveniências de seu procedimento, afirmando que a antiga sede não oferecia as condições mínimas e que o povoado na Boa Vista "em breve tempo será uma das vilas de nome".
A mudança de sede e de padroeiro gerou hostilidade dos moradores do antigo arraial. A imagem de São José era o primeiro orago (padroeiro principal) da Boa Vista do Sapucaí, mas após o "Encontro" com o povo da Capela Velha e a hostilidade consumada, o Padre Lourenço mudou de ideia e trabalhou para a extinção da Capela Velha. Ele retirou São José do trono de padroeiro da nova sede, substituindo-o por Nossa Senhora da Soledade, que era a padroeira da Capela Velha. A imagem de São José foi levada para a residência do Padre Lourenço, onde ele mantinha um pequeno altar e celebrava missas quando doente. Essa imagem histórica foi, posteriormente, reencarnada pelo pintor Luís Teixeira e levada de volta à Matriz em 1911.
Segundo o historiador Geraldino Campista, o Padre Lourenço conseguiu harmonizar os contendores no evento conhecido como "Encontro", concordando em deixar a imagem de N. Sra. da Soledade na igreja primitiva e levar apenas os paramentos para a nova freguesia. Contudo, o autor Armelim Guimarães argumenta que o Padre Lourenço, inimigo da violência, mas de índole voluntariosa, não aceitou a afronta e passou a trabalhar pela extinção da Capela Velha.
Ele conseguiu, junto ao Governador da Província em Ouro Preto, que a Boa Vista do Sapucaí fosse oficialmente chamada de Itajubá, enquanto a Capela Velha ficou conhecida popularmente como Itajubá Velho. Geraldino Campista conclui que, nesse ponto, o Padre Lourenço da Costa Moreira "estava vitorioso".
Vida Pessoal e Família[editar]
O Padre não era muito adepto da castidade católica e foi pai de cinco filhos:
- Felizarda Tomásia do Amaral: Filha com uma senhora de Parati. Casou-se em 1837 em Soledade de Itajubá (Delfim Moreira) com Policarpo Teixeira de Almeida Queiroz.
- Manuel Moreira da Costa: Casado com D. Rita Carolina.
- Dr. Domiciano da Costa Moreira: Filho com D. Inês de Castro Silva. Nasceu em 31 de dezembro de 1814 em Guaratinguetá. Foi o 2º médico a clinicar em Itajubá e um dos mais ilustres e prestigiados. Foi fazendeiro, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, chefe do Partido Liberal local, vereador, Presidente da Câmara e Agente Executivo Municipal (Prefeito). Foi o primeiro agricultor a plantar café no município. Deixou em testamento uma importância significativa para a fundação de uma casa hospitalar para pobres, sendo considerado o primeiro grande benfeitor da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá. Faleceu em 12 de novembro de 1881. Foi o único filho que permaneceu em Itajubá, casou-se e constituiu família. Sua mãe, D. Inês de Castro Silva, faleceu em 23 de maio de 1857 e residia com ele em Itajubá.
- Delminda Moreira da Costa: Filha com D. Inês de Castro Silva. Era professora. Casou-se em Itajubá em 1837 com Juvêncio Alves de Sene, que faleceu em 1888. Carlos Alberto da Silveira Isoldi, descendente de Delminda, colaborou com informações documentadas sobre a família do Padre Lourenço.
- Marcolino Moreira da Costa: Fazendeiro, nasceu em Guaratinguetá. Em seu batismo consta como filho de pais incógnitos, exposto na casa de Mariana de Oliveira. Suas terras em Piranguçu (fazendas São Bernardo e Catanduba) foram vendidas após sua morte por suas filhas órfãs, Emerenciana e Virgínia.
As terras do Padre Lourenço foram divididas entre seus herdeiros. Enquanto viveu, ele continuou a residir em Itajubá e viu a cidade atingir a prosperidade que idealizou.
Descrição Física e Retrato[editar]
Não existe uma fotografia conhecida do Padre Lourenço da Costa Moreira. No entanto, o jornal "O Clarim" publicou em 29 de fevereiro de 1904 uma descrição de seus traços fisionômicos por um colaborador de pseudônimo "Constantino", que o conheceu pessoalmente.
Com base nessa descrição, o Dr. José Ernesto Coelho, descrito como um "exímio pintor", fez um "retrato falado" do sacerdote em 1968.
Sua aparência física é descrita como possuindo semblante helênico, tez morena, pestanas cerradas e negras, rosto redondo e liso, nariz afilado e reto, e lóbulo da orelha.
Falecimento e Sepultamento[editar]
O Padre Lourenço da Costa Moreira faleceu em Itajubá em 14 de junho de 1855. Ele residia na casa que foi a sede da fazenda da Água Preta. Foi sepultado no antigo cemitério do Rosário, que hoje não existe mais. Cerca de 50 anos após sua morte, seus despojos, juntamente com outros restos mortais exumados do velho cemitério, foram transferidos para o ossário comum do novo cemitério, inaugurado em 1889. A casa onde residiu e faleceu, localizada perto da atual Praça Pereira dos Santos e Rua Miguel Braga, foi demolida entre as décadas de 1930 e 1940.
Legado[editar]
O Padre Lourenço da Costa Moreira é lembrado como o visionário que escolheu e fundou a cidade de Itajubá, lutando para estabelecer a nova sede paroquial e garantir a legalidade das terras para os moradores, especialmente frente à Lei de Terras de 1850. Sua "profecia" de que a Boa Vista se tornaria "uma vila de nome" se concretizou, com Itajubá prosperando ainda em sua vida. Embora sua biografia revele complexidades e transgressões às normas eclesiásticas, seu papel como fundador é inegável na história do município.