Rio Sapucaí

De História de Itajubá - Wiki
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O Rio Sapucaí é um importante rio do sul do estado de Minas Gerais, Brasil. Ele divide a cidade de Itajubá ao meio e é considerado de relevante importância no progresso e na vida da cidade, especialmente no passado, por favorecer a navegação. O município de Itajubá está situado na bacia hidrográfica do Rio Sapucaí.

Etimologia[editar]

O nome "Sapucaí" foi dado pelos indígenas que habitavam a região. O termo tem origem na língua Tupi e significa "rio que canta" ou "rio que grita". Esta denominação faz alusão às árvores Sapucaia (da família das lecitidáceas) que, quando fustigadas pelos ventos (frequentes no vale), produziam sons semelhantes a gemidos ou gritos. Os índios também chamavam de "sapucaia" as galinhas (que desconheciam antes da chegada dos portugueses) por cacarejarem alto. Nos velhos tempos, essas árvores Sapucaia existiam em abundância nas margens e barrancas do rio.

Geografia[editar]

O Rio Sapucaí nasce na cidade de Campos do Jordão e deságua no Rio Grande. Em Itajubá, ele entra na cidade pelo bairro urbano Santa Rosa e sai pelo bairro Boa Vista, dividindo-a em duas partes iguais. A bacia do Sapucaí é a principal do sistema potamográfico do Sul de Minas. Alguns de seus afluentes notáveis no território itajubense incluem o Ribeirão José Pereira (na margem direita) e o Córrego da Estância, Ribeirão das Anhumas, Ribeirão Piranguçu e Ribeirão dos Antunes (na margem esquerda). O Ribeirão José Pereira, que também atravessa grande parte da cidade e deságua no Sapucaí no centro, era utilizado para a iluminação pública no início do século XX.

História e Exploração[editar]

O conhecimento do Alto Rio Verde e do Alto Sapucaí remonta ao final do século XVI. Diversos sertanistas e bandeirantes exploraram a região e se aproximaram do rio nos séculos XVI e XVII.

  • João Pereira Botafogo é afirmado como o primeiro civilizado a divisar o Sapucaí em 1596.
  • Martim de Sá, em 1597, numa bandeira vinda do Rio de Janeiro, transpôs a Serra do Mar, atravessou o Paraíba e ascendeu pela Mantiqueira, viajando na região das cabeceiras do Sapucaí e do Rio Verde.
  • Afonso Sardinha, em 1597, desceu da Mantiqueira (antigamente chamada Jaguamimbaba) para a região do Sapucaí, acompanhado pelo naturalista alemão Glimmer, considerado o primeiro homem de ciência a penetrar no território da futura Minas Gerais.
  • Diogo Gonçalves Laço e Francisco Proença, no início do século XVII, alcançaram o leito do Sapucaí e subiram por ele.
  • Bartolomeu da Cunha já conhecia a existência de ouro no Alto Sapucaí antes de 1737.
  • A existência de ouro no Alto Sapucaí e no Alto Rio Verde era perfeitamente conhecida pelos anos de 1692 a 1693.

Apesar dessas explorações anteriores, o ouvidor de São João del-Rei, Cipriano José da Rocha, afirmou ter "descobriu" o Rio Sapucaí em 1737, após diligências próprias. Ele descreveu o rio como "abundante de águas, maior em muitas partes que o Rio Grande, porém, de vagarosa corrente". Naquele tempo (1737), o "Itajubá" mencionado era a povoação serrana (atual Delfim Moreira) e não a atual cidade.

Fundação da Nova Itajubá[editar]

A história da atual cidade de Itajubá está intrinsecamente ligada ao Rio Sapucaí. A primitiva povoação de Itajubá (hoje Delfim Moreira), fundada por Miguel Garcia Velho em 1703, ficava em um local de difícil acesso e pouco favorável ao progresso. Em 1819, o então vigário de Soledade de Itajubá, Padre Lourenço da Costa Moreira, considerou a primitiva sede paroquial como uma "sepultura dos vivos" e decidiu transferir a freguesia para um local mais propício.

Na noite de 17 de março de 1819, Padre Lourenço reuniu os fiéis que o seguiriam. Na manhã seguinte, a caravana rumou para as margens do Rio Sapucaí. Chegaram à confluência dos rios Santo Antônio e Sapucaí, onde prepararam balsas para descer o rio. Ao amanhecer do dia 19 de março de 1819, desembarcaram no alto do Morro Ibitira (nome indígena para o outeiro), onde o Padre Lourenço celebrou a primeira missa, fundando o povoado que seria a nova Itajubá. Inicialmente, o povoado foi denominado Boa Vista do Sapucaí, ou Capela Nova da Boa Vista, ou Capela Nova de Itajubá, ou Itajubá Novo. O nome "Itajubá" só foi oficialmente transferido para o novo povoado anos mais tarde. O local da primeira missa, no outeiro, é onde hoje se encontra a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Soledade.

Navegação[editar]

O Rio Sapucaí foi um importante meio de transporte na região. Antes da chegada da estrada de ferro, as mercadorias chegavam por meio de "barcas (movidas a varejão ou zinga)", que exigiam grande esforço humano para subir o rio contra a correnteza. O ancoradouro primitivo ficava entre os términos das atuais Ruas Flamíneo Miranda e Tomás Aldano, e um novo porto foi construído posteriormente, mais próximo às casas comerciais. O antigo porto passou a ser conhecido como Porto Velho, dando nome ao bairro ali desenvolvido.

A navegação a vapor pelo rio foi autorizada por lei provincial em 1893. O primeiro barco a vapor, o "Guapy", chegou a Itajubá pela estrada de ferro em 1892 e foi lançado ao rio. Posteriormente, outros barcos a vapor chegaram, e esses serviços existiam ainda em 1912. No entanto, as barcas a varejão foram desaparecendo.

Nos velhos tempos, o Sapucaí possuía maior volume de água devido às florestas ribeirinhas, o que facilitava a navegação. Atualmente, devido à devastação das matas e à retificação do leito, o rio se tornou raso, inviabilizando a navegação até mesmo das menores barcas.

Enchentes e Retificação[editar]

O Rio Sapucaí era conhecido por suas grandes e desastrosas inundações em Itajubá. As cheias, especialmente em dezembro, janeiro e fevereiro, causavam desabamentos, grandes prejuízos e vitimavam pessoas, invadindo o centro da cidade e diversos bairros ribeirinhos como Pinheirinho, Avenida, Boa Vista, Porto Velho, Pacatito, Cantina, e Varginha.

A necessidade de "retificar o curso do rio" para pôr fim às enchentes foi discutida desde o século XIX. Projetos e estudos foram elaborados. A Câmara Municipal reconheceu a urgência da mudança do curso das águas já em 1864. Apesar de esforços e promessas de autoridades estaduais e federais, os trabalhos de retificação só tiveram início em 11 de novembro de 1957, graças aos esforços de figuras como o prefeito Antônio Rennó Pereira (Tota Rennó), Dr. Aureliano Chaves de Mendonça (então engenheiro da prefeitura) e o deputado Dr. Euclides Pereira Cintra, que lutou incansavelmente pelo projeto junto aos governos estadual e federal.

Os trabalhos, realizados com dragas, duraram quase doze anos, chegando à ponte da Fábrica de Armas em 1969. A retificação, embora tenha ajudado a controlar as grandes inundações, contribuiu para a diminuição do volume de água do rio. O 4º Batalhão de Engenharia de Combate em Itajubá também prestava socorro à cidade durante as enchentes.

Relação com a Cidade[editar]

Além de dividir Itajubá, o Rio Sapucaí interage com a vida urbana de diversas formas:

  • Pontes: Diversas pontes foram construídas sobre o rio ao longo da história para ligar as duas margens. A primeira ponte de madeira foi construída em 1852 por Joaquim Rodrigues Sampaio. A ponte "Randolfo Paiva" (originalmente construída por Dr. João Baptista Randolpho Paiva a partir de 1928, substituída por uma mais sólida em 1985), a ponte Dr. José Rodrigues Seabra (na Fábrica de Armas, inaugurada em 1953), a ponte Rui Gomes Braga (ligando Ruas Francisco Masselli e Prof. Cornélio de Faria), e a ponte Dr. João Baptista Cabral Rennó (ligando Rua Vicente Sanches à Av. Padre Lourenço, inaugurada em 1984) são exemplos.
  • Uso das Margens e Água: Nos séculos passados, as margens eram usadas para lavar roupas. O rio também era utilizado para natação. Houve discussões e tentativas de usar a água do Sapucaí para o abastecimento público, embora sua potabilidade tenha sido questionada devido à poluição por esgotos e animais mortos. Atualmente, o abastecimento de água pela COPASA em Itajubá utiliza água bombeada do Sapucaí, na altura do bairro Santa Rosa, apesar da existência de mananciais límpidos na serra dos Toledos. O rio também recebeu descarte de lixo da cidade.
  • Divisas: A disputa por limites entre Minas Gerais e São Paulo no século XVIII e XIX envolveu a posse das margens do Rio Sapucaí. As pretensões paulistas visavam ter domínio sobre ambas as margens. Decisões régias e de governadores acabaram por reconhecer ambas as vertentes do Sapucaí como território mineiro. Houve até iniciativa de um deputado mineiro para anexar a margem esquerda do Sapucaí (incluindo parte de Itajubá) a São Paulo em 1858, mas a Câmara de Itajubá se opôs.

Legado[editar]

O Rio Sapucaí não é apenas uma característica geográfica central para Itajubá, mas também parte de sua identidade e história, desde os primeiros povoamentos até a modernização da cidade. O nome "Itajubá" está ligado indiretamente ao rio, através da cachoeira "Itagybá" em Delfim Moreira, que deu nome à primitiva povoação. Um dos mais ilustres titulares do Império, Cândido José de Araújo Vianna, recebeu a honraria de Marquês de Sapucaí, tendo uma rua no Rio de Janeiro com seu nome associada ao carnaval. Itajubá também fez parte da Comarca do Sapucaí em diferentes períodos históricos.